Sergei Vassilievitch Rachmaninov nasceu em 1.º de abril de 1873, em Oneg, na província de Novgorod (Rússia). Proveniente de uma família aristocrática, Rachmaninov teve uma educação refinada, principalmente no campo musical. Aos sete anos estudava música com anna Dmitrieva Ornazkaia. Posteriormente, estudou nos conservatórios de São Petersburgo e de Moscou, aonde teve aulas de piano com Nikolai Zverev, de contraponto com Serguei Taneiev e de harmonia e composição com anton arensky. Rachmaninov graduou-se nesse conservatório, como compositor e pianista com distinção.
O jovem compositor também estudou música com um familiar, alexander Ziloti, antigo aluno do célebre Liszt. A herança musical transmitida por Ziloti foi assimilada por Rachmaninov que, no entanto, a desenvolveu imprimindo-lhe um estilo próprio. Outra das influências determinantes no estilo do jovem Rachmaninov foi a linguagem musical do compositor russo Tchaikovsky.
Uma das primeiras obras de destaque foi aleko. Rachmaninov tinha, então, dezenove anos, e compôs essa obra como trabalho final de formatura, apresentando-o no conservatório de Moscou. aleko é uma ópera em um ato, baseada num libreto de Nemirovich-Danchenko e inspirada no poema do célebre escritor aleksander Puchkin, que estreou em 9 de maio de 1893 no teatro Bolshoi.
Um ano depois escreveu a Morceaux de Fantasie Op. 3, considerada uma obra delicada e de refinada sonoridade. Dos 4 concertos para piano que Rachmaninov escreveu durante a sua carreira, o primeiro foi composto em 1891, ou seja, quando o compositor tinha, somente, dezoito anos. O Concerto para piano n.º 1 em fá sustenido menor Op. 1, estreou em Moscou no ano seguinte, tendo Rachmaninov como solista e ao prestigioso Vassily Ilich Safonov como regente.
Apesar de não possuir a densidade presente nos Concertos para piano n.ºs 2 e 3, o Concerto para piano n.º 1 anunciava a criatividade melódica e a escrita pianística que marcaram a obra de Rachmaninov.
Pouco tempo depois de deixar o conservatório de Moscou, Rachmaninov compôs uma obra ambiciosa, o poema sinfônico O rochedo, escrito em 1893. Baseava-se num poema de Lermontov e num conto de Tchekov - a quem Rachmaninov dedicou a partitura -, intitulado Durante a viagem, que narrava o breve idílio entre um homem de meia idade e uma jovem em uma pousada.
Durante os anos que se seguiram, continuou atuando como intérprete - conquistando a admiração em todos os auditórios que se apresentava - e como compositor. No entanto, a sua carreira como compositor recebeu um forte impacto. Em 1897, a estréia de sua Sinfonia n.º 1 em ré menor foi um grande fracasso. Decepcionado, Rachmaninov decidiu parar de compor e, durante três anos, trabalhou, unicamente, como pianista e diretor.
Nesse mesmo ano, foi nomeado regente da ópera de Mamontov, em Moscou, aonde conheceu o baixo Fiodor Ivanovitch Chaliapin, um dos cantores-atores mais conhecidos de sua época. Ambos estabeleceram uma grande amizade que, junto ao tratamento iniciado com o doutor Niels Dahl, ajudou-o a superar os temores de voltar a compor.
Embora Rachmaninov já houvesse abordado o gênero religioso em um coro pouco representativo, a primeira obra sacra importante de seu repertório é, indubitavelmente, a Liturgia de São João Crisóstomo, partitura para solistas e coro à capela, que o músico compôs em 1910, para o rito ortodoxo. A tradição litúrgica russa havia sofrido um estancamento importante durante quase todo o século XIX, devido a um decreto que proibia o seu culto ou limitava às obras que as autoridades considerassem aceitáveis.
Quando, em 1878, Tchaikovsky compôs uma obra também intitulada Liturgia de São João Crisóstomo, teve que enfrentar o santo sínodo e, desde essa época, outros compositores, também, passaram a compor obras nesse gênero. Entre esses encontrava-se alexander Tikhonovich Gretchaninov, autor de uma composição com mesmo nome. A obra de Rachmaninov, posterior aos dois autores citados, transcendia, de certo modo, o seu destino, apesar de respeitar ao pé da letra a liturgia eslava, por um certo sabor profano que envolvia a obra do princípio ao fim.
No período anterior à I Guerra Mundial, Rachmaninov viveu, talvez, seus momentos mais felizes como pianista, regente e compositor. Como compositor, junto às obras orquestrais e vocais, havia desenvolvido uma importante obra pianística, com os esplêndidos cadernos intitulados Prelúdios Op. 23 (10) - compostos entre 1901 e 1903 -, Prelúdios Op. 32 (13) (1910), Sonata n.º 1 em ré menor (1907), Estudos Op. 33 (6) (1911) e os Estudos Op. 39 (9) (1917).
Como intérprete era reconhecido em todo o mundo e suas turnês, muito esperadas. No entanto, em 1911, aceitou o cargo de diretor da Orquestra Filarmônica de Moscou e, durante dois anos, suas obrigações o mantiveram por mais tempo na capital russa. Ao terminar essa etapa, viajou por vários países da Europa e voltou para casa com algumas belas composições.
Uma delas, Os sinos Op. 35, era uma proposta original. Tratava-se de uma sinfonia composta para orquestra, coro, três vozes solistas - uma soprano, um tenor e um barítono. Rachmaninov a escreveu em Roma, durante 1913, baseando-se no poema homônimo de Edgard allan Poe, cujo texto o músico havia conhecido pela tradução russa de Balmont. Do mesmo modo que o poema, a partitura apresentava quatro momentos distintos, representando diferentes etapas da vida humana, por meio de uma simbologia que dava título à composição - quatro tipos de sinos, cujas sonoridades Rachmaninov tentou reproduzir por intermédio da orquestra.
Dessa maneira, o primeiro movimento, Os sinos de prata, um allegro ma non tanto para orquestra, tenor e coro, representava o nascimento; enquanto o segundo, Doces sinos de casamento, era um lento para orquestra, soprano e coro que ilustrava uma cerimônia nupcial. O terror constituía o tema principal de Os fortes sinos de alarme, um presto para coro e orquestra que pretendia refletir o amadurecimento. O último movimento, as campanas fúnebres de ferro, era um lento para barítono, coro e orquestra que retratava a morte. Rachmaninov considerava Os sinos a sua obra mais primorosa; e asiim a entendeu o público que estava presente em sua estréia em Moscou, em 1914, e converteu o acontecimento em um grande triunfo.
Em 1915, Rachmaninov compôs o seu grande ciclo litúrgico. O título da obra era Vigília e, junto à Liturgia de São João Crisóstomo, foi uma das poucas obras religiosas que o compositor escreveu ao longo de toda a sua trajetória. A estréia da obra Vigília de Páscoa, uma brilhante partitura para solistas e coro à capela, produziu-se no mesmo ano de sua composição, e foi interpretado pelo coro da igreja ortodoxa russa.
À diferença da primeira obra religiosa de Rachmaninov, que denotava a intenção de um compositor mais preocupado com a linguagem musical profana do que com a adequação do espírito da partitura à sua finalidade litúrgica, Vigília de Páscoa apresentava uma integração total com o seu objetivo. Isso foi possível graças à utilização, por parte do artista, de uma série de melodias antigas, procedentes da igreja ortodoxa - em concreto, dez das quinze que compunham a obra -, assim como de recursos harmônicos, próprios das músicas litúrgicas tradicionais russas.
Muitos musicólogos coincidiram em estabelecer que o período compositivo mais criativo de Rachmaninov termina com o exílio. Embora o compositor tenha escrito belas obras depois de 1917, destacou-se, sobretudo, como intéprete, e sua produção musical diminuiu significativamente.
Rachmaninov abandonou a Rússia, aproveitando uma turnê de concertos pela Suécia, pouco depois da Revolução de Outubro, dois meses depois dos conflitos que levaram o gigante europeu do leste a iniciar um processo que o distanciaria do resto do continente. O músico terminou nos Estados Unidos, aonde permaneceu até 1928. Depois de uma prolongada estada na França e na Suíça, regressou aos Estados Unidos em 1935, aonde fixou residência até a sua morte.
Rachmaninov foi considerado em sua época como um dos virtuoses mais brilhantes e suas atuações, às vezes polêmicas devido à interpretação que fez de obras clássicas, foram seguidas com devoção. Ao mesmo tempo, as gravações realizadas durante sua fase como pianista e diretor de orquestra constituíram durante muitos anos uma referência importante, embora, como no caso de suas interpretações, algumas delas tenham sido julgadas como polêmicas.
Concluído em 1926, o Concerto para piano n.º 4 pode ser considerado o menos interessante de seus concertos. O músico, que iniciou a sua composição antes de deixar o seu país, deixou-se influenciar pela a música americana à hora de concluí-lo e apresentá-lo, na Filadélfia, em 18 de março de 1927 sob a regência de Leopold Stokovsky.
Em 1931, Rachmaninov escreveu as Variações sobre um tema de Corelli, partitura original para piano, e, em 1934, colocou toda a sua experiência como virtuose na composição de uma obra que pretendia render homenagem àquele que ele considerava o mais brilhante de todos os intérpretes virtuoses da história da música romântica, Paganini, em uma obra intitulada Rapsódia sobre um tema de Paganini Op. 43. Tratava-se de um ciclo de variações para piano e orquestra que o músico russo escreveu e estreou em 1934, em Baltimore, nos Estados Unidos, sob direção de Leopold Stokovsky.
Essa é a última obra concertante do compositor e pode ser consiedrado como seu quinto concerto para piano. Cinco anos depois, o coreógrafo Fokine, com o consentimento do autor, criou para a obra o balé Paganini, estreado no Convent Garden de Londres.
Entre o material que compõe essa partitura ressurgiu o Dies Irae medieval, que havia aparecido pela primeira vez no poema sinfônico a ilha dos mortos e que o compositor russo retomou pela terceira e última vez em Danças sinfônicas.
Entre as obras de maior destaque dos últimos anos da carreira de Rachmaninov, vale citar a Sinfonia n.º 3, composta em 1936 e revisada em 1938 e Danças sinfônicas, de 1940, que pode ser considerada como o seu testamento musical e, recorre, mais uma vez, ao tema da morte.
A Sinfonia n.º 3 em lá menor Op. 44 foi escrita em 1936 e estreou no mesmo ano, na Filadélfia. Depois de a ilha dos mortos, escrita em 1909, Rachmaninov voltou a compor uma obra para orquestra. A linguagem musical da Sinfonia n.º 3 permite entrever a influência americana e a modernidade que caracterizam as últimas obras deste compositor.
Sua seguinte obra orquestral, e também a última, é Danças sinfônicas. Escrita em 1940, estreou um ano depois sob a regência de Eugene Ormandy. A obra, cujo nome original era Danças fantásticas, teve parte de sua música aproveitada de Os citas, um balé iniciado em 1915 que não chegou a ser concluído. Parte do seu último período compositivo, Danças sinfônicas é obra de profundo lirismo que revive a imagem tradicional de um Rachmaninov pós-romântico.
Rachmaninov faleceu em Beverly Hills, na Califórnia, em 28 de março de 1943, distante de sua terra natal que, apesar de muitos anos de exílio, nunca chegou a esquecer. Embora em 1931 as autoridades russas tenham proibido a reprodução de sua música naquele país, por considerá-la perigosa e burguesa, após a sua morte iniciou-se um movimento por recuperar a obra de Rachmaninov como parte do patrimônio russo. Sua música passou, a partir de então, a se impor com força nos círculos musicais soviéticos.