Béla Bartók nasceu em Nagyszentmiklós (Hungria), hoje Sannicolaul Mare (Romênia) em 25 de março de 1881. Aprendeu música e piano com a mãe, a partir dos cinco anos. Aos oito, perdeu o pai. Estabeleceu-se desde 1894 em Pozsony, atual Bratislava, centro cultural importante, onde fez estudos musicais regulares, embasamento técnico de sua atividade criativa.
Realizou, a partir de 1905, em companhia de seu amigo Zoltán Kodály, a pesquisa sistemática da música popular húngara, revelando-a completamente diversa da que se divulga como tal, ocidentalizada e desfigurada pelos músicos ciganos. Esse levantamento, sempre criterioso e objetivo, daria a matéria-prima fundamental de sua obra, particularmente de 1926 em diante, quando esta amadurece e adquire feição inteiramente original.
Anteriores a esse período, não obstante de mérito e importância indiscutíveis, são os Quartetos para cordas n.º 1 (1908) e n.º 2 (1915-1917), bem como inúmeras peças para piano, entre as quais o célebre allegro bárbaro (1911), e a ópera em um ato O castelo do duque Barba azul (1911), cuja rejeição, por parte do público e de organizações musicais da Hungria, levou o compositor a fundar, juntamente com Kodály e outros autores jovens, a Sociedade Musical Húngara, infelizmente de curta duração.
Seguem-se o bailado O mandarim milagroso (1919) e as duas sonatas para piano e violino, produções em que a tonalidade se apresenta progressivamente mais livre e se afirma uma forte tendência, expressionista, que se abrandaria na Suíte das danças (1923), composta especialmente para as festas de celebração do 50.º aniversário da união das cidades de Buda e Pest. O trabalho propiciou a admiração de seus compatriotas, se bem que passageira.
A pouca receptividade dos conterrâneos e do público em geral para com as produções mais acentuadamente modernas do mestre húngaro se reduz ao final da I Guerra Mundial, quando suas obras são publicadas e ele se dedica, ainda mais ativamente, à obstinada prospecção folclórica não apenas da Hungria, como da Bulgária, da Eslováquia, da Romênia.
Alguns anos depois se inicia a fase de maior fecundidade em toda a sua carreira. Surge o Concerto para piano n.º 1 (1926), estranho, profundamente individual, o Quarteto para cordas n.º 3 (1927), de inusitado expressionismo em um único movimento, o Quarteto para cordas n.º 4 (1928), em que desenvolve ao máximo a aplicação do princípio de simetria no plano formal e da linguagem harmônica ao mesmo tempo, a Cantata profana (1930), de caráter marcadamente social, tendo por tema a indignação de um cidadão comum, e o Concerto para piano n.º 2 (1930-1931).
Bartók se encontra, então, em plena posse de suas características e recursos mais notáveis. Sua música adquire uma vitalidade como que atávica, onde as raízes e ressonâncias telúricas, a aspereza dos ritmos, o tom instintivo e bárbaro recebem, todavia, um tratamento de extremo rigor artesanal e severidade nas técnicas adotadas. Virtualiza, recria em novas bases o manancial anônimo e popular, edificando uma linguagem de música erudita que, por um lado, preserva a densidade essencial de um inconsciente coletivo e, de outro lado, se submete a uma disciplinada e vigorosa consciência estética.
Também em 1926 começa a revelar-se um outro aspecto decisivo da personalidade de Bartók: sua vocação pedagógica. O Mikrokosmos, coleção de exercícios pianísticos de dificuldades crescentes, principiada em 1926 e terminada em 1937, mereceu de vários autores contemporâneos a denominação de "Cravo bem temperado do século XX". Nesse trabalho, longe de figurar entre os mais expressivos num período tão fértil da criação bartokiana, explicita-se melhor uma das suas extraordinárias contribuições: a de ter filtrado, sintetizado o que de melhor existia, no seu tempo, de técnica e estilística musical. Nesse sentido, fundia a uma longa tradição de música universal os elementos de sua valiosíssima vivência particular, após todo o processo de catalisação cultural a que soube submetê-la.
É de 1934 o Quarteto para cordas n.º 5, uma de suas obras-primas, a de mais fascinante modernidade, trazendo o clímax da técnica de contraponto que o compositor vinha desenvolvendo sobretudo nos últimos oito anos. Compõe, nos anos seguintes, tanto a Música para cordas, percussão e celesta (1936) como os Contrastes para clarineta, piano e violino (1938) e a Sonata para 2 pianos e percussão (1937), onde persegue, com grande pioneirismo, uma pureza concreta do som e do instrumento. Da mesma fase é o Concerto para violino (1937-1938) em que a pujança e a delicadeza se contrastam, se completam, a cada instante, com uma originalidade admirável. Ligeiramente posteriores são o Divertimento para cordas (1939) e o Quarteto para cordas n.º 6 (1939), precedendo a última etapa da produção de Bartók, vivida na américa do Norte.
Autenticamente democrata, recusa-se a permanecer em seu país quando o fascismo se instala no poder. Em 1940 estabelece-se nos Estados Unidos, compondo suas últimas obras, notadamente o Concerto para orquestra (1943), a Sonata para violino (1944) e o Concerto para piano n.º 3 (1945).
O reconhecimento do valor e da significação de sua obra não o alcança sequer nessa arrancada final em que, precário de saúde e bens materiais, não deixou de compor e trabalhar num hospital de Nova Iorque, onde morreu em 26 de setembro de 1945.
Levaria ainda algum tempo para que o mundo pudesse ver em Bartók, na qualidade de uma invenção e inovação musical poderosamente mergulhada nas raízes de sua terra, na indiferença a todos os modismos, nas novas sonoridades de sua orquestração, assim como no rigor intelectual, e na estrita honestidade artística, um dos maiores gênios da primeira metade do século, e um dos mais completos de todos os tempos.