Roland de Lassus nasceu em Mons (Bélgica), em 1532. A sua encantadora voz de criança atraía a atenção dos melómanos na igreja de São Nicolas, em Mons, e fez com que por três vezes, fosse alvo de tentativas de rapto. O último destes melómanos ousados foi Fernando de Gonzague, vice-rei da Sicília, que, com o consentimento forçado dos pais, levou a criança para Saint-Dizier (onde comandava as forças imperiais) e, depois, para Palermo e Milão.

Após a mudança de sua voz, Lassus fixou-se em Nápoles (1550-1553) ao serviço do marquês della Terza. Ignora-se quais foram os seus professores, mas é possível que tenha prosseguido os estudos musicais, iniciados em Mons, durante as suas longas estadas em Milão e Nápoles.

Em seguida, tornou-se mestre do coro de São João de Latrão, em Roma (1553-1555) e, depois, fixou-se em antuérpia (1555-1556) onde publicou as suas primeiras obras, especialmente uma coleção de madrigais a 5 vozes que revelam já uma grande mestria e uma forte personalidade. A sua celebridade estendeu-se rapidamente em toda a Europa, e as dedicatórias das numerosas obras deste período mostram a extensão das suas relações com os grandes deste mundo.

Em 1556, o duque da Baviera, alberto, chamou-o para a sua corte como chantre e, depois, em 1563, nomeou-o mestre de capela, funções que exerceria até a morte. A capela da Baviera tornou-se então uma das mais prestigiosas da Europa; no seu apogeu iria empregar até 60 cantores e 30 instrumentistas. Em Munique, Lassus desenvolveu a sua atividade prodigiosa, edificando uma obra monumental, participando em todas as cerimônias, em todas as festas religiosas, em todas as festividades da corte e, arranjando ainda tempo para realizar numerosas viagens à Itália e à Holanda (nas condições de rapidez e comodidade que se pode imaginar), quer para recrutar cantores, quer para levar as suas obras aos mais ilustres personagens a quem haviam sido dedicadas.

Dirigiu-se especialmente a Veneza, Ferrara (para oferecer a afonso II o seu IV Livro de madrigais),Mântua, Florença, Roma (para oferecer uma admirável coleção de motetos, o III Livro de Patrocinium musices, ao papa Gregório XIII, que o fez cavaleiro da Espora de Ouro), a Paris (onde foi recebido com entusiasmo na corte de Carlos IX), etc. Em 1570, foi nobilitado pelo imperador Maximiliano.

Após a morte do duque alberto, sucedeu-lhe seu filho Guilherme (1579). Lassus manteve com o príncipe relações de perfeita amizade, conforme se pode ver por uma correspondência onde se dá livre curso à fantasia sem peias, ao humor rabelaisiano, mas também à fina sensibilidade do músico; estas cartas são, na sua maioria, escritas num dialeto extraordinário constitído por uma mistura de francês, italiano, alemão e latim, língua predileta deste verdadeiro "europeu".

Em 1590, a sua natural alegria terminou com uma crise aguda de neurastenia que afetou gravemente o seu estado geral. Em 1593, produziria-se uma melhora considerável graças aos cuidados de um eminente médico da corte, o Dr. Mermann. Lassus retomou uma atividade quase normal. Em 24 de maio de 1594, dedicou a sua última obra, Lágrima de São Pedro, ao papa Clemente VIII. Mas morreu três semanas depois (Munique, alemanha, 14 de junho de 1594), antes de ver publicada. Do seu casamento com Regina Wackinger, filha de uma aia da corte, teve seis filhos, quatro rapazes e duas moças: Fernando, Rodolfo e Ernest foram músicos na corte da Baviera.

Lassus foi o mais ilustre músico do Renascimento. A sua glória ultrapassou mesmo a de Palestrina, e os seus contemporâneos podiam considerá-lo o maior compositor que existira até então. Hoje em dia, continua a ser um dos maiores e mais fecundos de todos os tempos. Na sua extensíssima obra (mais de 2000 composições identificadas) ele cultivou todos os gêneros com igual mestria.

O seu gênio universal esteve tão a vontade na brincadeira como no misticismo, e exprimiu-se tão bem nas formas polifônicas mais complexas como nas da canção popular. O contraste entre uma fé austera e uma inspiração, truculenta ou poética, inesgotável é um dos traços característcos da sua personalidade. Este contraste surge freqüentemente na sua obra, especialmente nas missas, onde temas de canções (por vezes muito licenciosas) funcionam como cantus firmus de construções polifônicas da mais elevada inspiração religiosa (princípio da "missa-paródia", condenado, em vão, pelos papas).

A edição moderna, integral, realizada por Haberl e Sandberger (edições Breitkopf, 1894-1927), completada a partir de 1956 pelo editor Bärenreiter, compreende pelo menos 53 missas (a 4, 5, 6 e 8 vozes), 4 paixões, cerca de 60 Magnificat, 1000 motetos e salmos (2 a 12 vozes), 200 madrigais ou villanelle italianos (3 a 10 vozes), 150 canções francesas, 100 lieder alemães.