Jean-Baptiste Lully nasceu em Florença, em 28 de novembro de 1632. A história de sua infância é um emaranhado de lendas que ele próprio ajudou a criar. Parece que só recebeu uma instrução geral e musical rudimentar de um monge franciscano. Aos treze anos, o jovem foi levado para Paris pelo cavaleiro de Guise, para atender ao desejo da sua sobrinha mademoiselle de Montpensier, que procurava un joli petit italien com que pudesse conversar na sua língua. Lully estava longe de ser bonito, mas não foi enviado para as cozinhas como se afirma.
O seu desembaraço, a sua graça e os seus dotes musicais valeram-lhe ser nomeado pagem de música e moço de câmara de mademoiselle de Montpensier em breve se tornou um dos melhores violinstas da orquestra privada desta princesa. Em 1652, depois da Frorde, deixou os serviços de mademoiselle, sem dúvida por causa da prima do rei ter caído em desgraça na sequência dos acontecimentos de 1652: mas afirmou-se que foi despedido por ter composto uma canção satírica.
O jovem Luís XIV mandou logo que o contratassem para os "vinte e quatro violinos". Devido ao seu talento de violinista, à sua habilidade para a dança, ao seu espírito cortesão e ao seu prodigioso oportunismo, soube tão bem encantar e adular o rei que se tornou o monarca absoluto da música da corte. Encarregado da direção dos "pequenos violinos", fundados recentemente, foi nomeado superintendente da música do rei, em 1661. Recebeu, nesse mesmo ano, as suas "cartas de naturalização" e, depois, foi promovido a mestre de música da família real.
Cúpido e sem escrúpulos, conseguia afastar todos os rivais e nenhuma festa podia realizar-se na corte sem que solicitassem a sua coleboração como compositor, violinista e bailarino. Foi nesta época, que completou a sua cultura musical, seguindo os conselhos de Gigault.
Em 1662, tornou-se amigo de Moliere, com quem iria coloborar até 1671, numa série de pastorais ou comédias-bailados, onde a música tinha um papel de primeiro plano: Le mariage forcé, L'amour médecin, Monsieur de Pourceaugnac, Le bourgois gentil-homme (onde Lully desempenhava o papel de Mufti na cena do Mamamouchi), etc. O seu êxito crescente, os honorários consideráveis, não eram suficientes para satisfazer a sua enorme ambição.
A falência da academia Real de Música, explorada por Cambert e Perrin, deu-lhe o motivo para aumentar a sua influência: assumiu o passivo da empresa e conseguiu com uma cumplicidade de madame de Montespan, que o privilégio concedido, em 1669, ao abade Perrin fosse transferido para si, com novas cartas patentes, o que lhe assegurava o monopólio, de fato, da ópera na França (por exemplo, o seu teatro era o único que podia empregar mais de seis violinos). Boileau chamou-lhe coeur bas, coquin ténébreux, buffon odieux.
Iniciou, então, uma colaboração de 14 anos com Quinalt, pondo em cena Les fêtes de l'amour et de Bacchus (1672), a primeira grande ópera francesa (1673). Em 8 de janeiro de 1687, feriu-se no pé com o grande bastão de diração, quando apresentava o seu Te Deum para celebrar a cura de Luís XIV. O abcesso que se formou, provocou a gangrena que o vitmou, três meses e meio depois, na sua casa, Rue de la Ville-L'Évêque. Lully morreu em Paris, em 22 de março de 1687. Deixou seis filhos (três dos quais, músicos) e uma enorme fortuna.
Lully foi o criador da ópera francesa. Manteve as formas da ópera de Cavalli, muito do agrado da corte da França (para as quais teve de compor intermezzos), mas adaptou essas formas ao ritmo e ao espírito da poesia francesa. Foi o primeiro a anteceder as suas óperas de verdadeiras aberturas muito desenvolvidas (uma primeira parte lenta e majestosa, seguida de um allegro em estilo fugado e, depois, de uma repetição abreviada da primeira parte) que, com o nome de "abertura francesa", tiveram um enorme sucesso (as suítes de J.S.bach aumentam-lhe a forma) e contribuíram para criar a sinfonia clássica.
O desconhecimento das regras de interpretação do tempo (especialmente no campo dos ornamentos, do ritmo e do tempo), contribui, muitas vezes, para desfigurar a música de Lully ao ponto de a tornar insípida e de só deixar aparecer os defeitos (banalidade de harmonia e de instrumentação, monotonia da declamação): a gravação do Te Deum representa um esforço muito interessante para reatar a interpretação do século XVII (realizaçãode a.Goeffroi-Dechaume).
Escreveu 32 bailados da corte, 11 comédias-bailados ou pastorais (com Moliere), 14 tragédias líricas (as mais notáveis das quais são amadis, Roland e armide), grandes motetos, Te Deum, Miserere, Dies Irae, etc.