Gustav Mahler nasceu em Kalist (Boêmia) a 7 de junho de 1860. De modesta família judaica, freqüentou durante alguns anos a escola secundária e iniciou em 1875, no Conservatório de Viena, o estudo da música. Em 1880 escreveu a obra coral a canção triste, que tornou conhecido o seu nome.
Foi regente em teatros de pequenas cidades de província e, em 1887, em Leipzig, onde terminou a composição de sua primeira sinfonia. Em 1888 foi nomeado diretor da ópera de Budapeste e em 1891 regente da ópera de Hamburgo, onde suas encenações tiveram muito sucesso.
Em 1897, depois de ter se convertido ao catolicismo, foi nomeado diretor da Ópera Imperial em Viena e eleito regente dos concertos filarmônicos. Os anos seguintes foram um período de sucessos muito grandes, mas também de intrigas contra ele, inclusive da parte da orquestra, que não suportava os inúmeros ensaios a que o regente a submeteu.
Em 1907, Mahler foi forçado a demitir-se. Contratado pela Ópera Metropolitana em Nova Iorque, também foi muito aplaudido. Gravemente doente, do coração e dos nervos, voltou para Viena só para morrer, fato que ocorreu em 18 de maio de 1911.
Mahler foi regente de orquestra da mais alta categoria. Alguns consideram-no o maior regente de todos os tempos, pela dedicação fanática ao trabalho de ensaios e pela fidelidade, no entanto intensamente pessoal, da interpretação das obras. Ajudado por um elenco de grandes cantores e por excelentes cenógrafos, conseguiu representações de perfeição inédita das obras de Mozart e Wagner. As óperas de mestres menores foram apresentadas de tal maneira que pareciam novas obras-primas.
A fama de Mahler como regente eclipsou de longe, durante sua vida, a fama de suas próprias obras sinfônicas. Foram executadas com freqüência, mas sem muito sucesso, rejeitadas pelos conservadores. No entanto, é como compositor que Mahler atingiu a categoria de grande artista.
Em 1885 escreveu Mahler, para textos em estilo popular que ele próprio tinha redigido, as Canções de um caminhante, para uma voz e orquestra, de romantismo intenso quase mórbido. A Sinfonia n.º 1 em ré menor é denominada Titânica, não por ser 'titânica', mas conforme o título de um romance de Jean Paul. Ainda é muito romântica, wagneriana e bruckneriana, mas o conteúdo emocional já é outro, obra de um músico intelectualizado e angustiado.
As Canções da cornucópia de um garoto (1888-1899) têm, como textos, canções populares da coleção de arnin e Brentano. É característica a síntese de melodias que parecem folclóricas, e de um acompanhamento orquestral requintado. Obra-prima é, enfim, a Sinfonia n.º 2 em dó menor (1894), com coro, que manifesta a profunda angústia religiosa do compositor. O ouvinte moderno pensaria em Unamuno.
Seguiram-se, como se fosse alcançada a redenção, a Sinfonia n.º 3 e n.º 4 em sol maior (1900), esta última com um solo com texto de canção popular infantil sobre o céu. Mas são, outra vez, terrivelmente sombrios as Canções sobre a morte da criança (1905), em que Mahler parece ter pressentido a morte, um ano depois, do seu filhinho.
A série das últimas obras começa com a Sinfonia n.º 6 em lá menor (1906), tecnicamente a mais complexa das obras orquestrais do mestre. Enfim, a Sinfonia n.º 8 em mi bemol maior (1907) não é a maior, mas a mais impressionante das obras de Mahler. Foi denominada 'a sinfonia dos mil', por que a execução exige várias orquestras e coros, mais de mil figuras. Não é propriamente uma sinfonia, mas antes uma gigantesca cantata. Servem como textos o hino Veni creator spiritus e o coro final da segunda parte do Fausto de Goethe. Nem todos acham que o resultado justifica os colossais recursos exigidos.
A grande obra-prima de Mahler é a Canção da terra (1908), cantata sinfônica sobre textos de Li T'ai Po e outros poetas chineses, na tradução alemã de Hans Bethge. Mahler foi homem de grande cultura literária e filosófica, e de uma intensa predileção pela música autenticamente popular, folclórica. Em sua alma lutaram uma permanente angústia religiosa e dúvidas torturante de intelectual. Tudo isso se manifesta na Canção da terra, que termina com uma comovente canção de despedida para sempre.
Mahler ainda escreveu, depois, a Sinfonia n.º 9 (1910) e a Sinfonia n.º 10 que ficou incompleta, obras de crise em que o compositor se aproxima das fronteiras do sistema tonal.
A grandeza de Mahler como compositor só foi reconhecida depois de sua morte, graças aos esforços de dois regentes que impuseram ao público suas obras: seu discípulo Bruno Walter e o holandês Willem Mengelberg. Seguiu-se curto período de eclipse, quando os nazistas proibiram a execução das obras do mestre de origem judaica. Hoje é Mahler incluído entre os grandes da música, no mundo inteiro.