Henry Purcell nasceu em Londres, em 1659. Pertencia a uma família de músicos: pai, tio, dois irmãos, um filho, um neto. Seu pai, Thomas (?-1682), gentlman da Capela Real, inscreveu-o, muito novo, no coro de crianças da capela real,dirigido por Cooke. Este foi, sem dúvida, o primeiro professor de Purcell. Em 1672, Humfrey sucedeu ao "capitão Cooke" e propôs-se iniciar os seus alunos nos novos estilos francês e italiano. Quando da mudança de voz, Purcell tornou-se aluno de Blow.
Estes três excelentes professores professores souberam desenvolver os seus dotes extraordinariamente precoces: aos onze anos começou a escrever as primeiras obras. Em 1679, foi nomeado compositor do rei para os violinos e substituiu Blow no órgão da abadia de Westminster (Blow recuperaria o lugar após a morte de seu aluno). Em 1682, foi organista da Capela Real. Compôs, com uma facilidade prodigiosa, um enorme número de hinos, odes de circunstâncias, música de cena; mas a sua primeira obra publicada (1683) é a coleção de 12 sonatas-trio, que demonstram a influência do Op. 5 de Vitali (1699) e suplantam o modelo.
Em 1689, Dido e Enéas, a obra-prima de Purcell, é representada pelas alunas de um colégio de moças em Chelsea, a quem a obra era destinada. É um dos pontos altos da música dramática e quanto mais se conhece a partitura mais se maravilha com a perfeição dos íntimos pormenores. Ignora-se quais as causas da morte de Purcell, em 21 de novembro de 1695, aos 36 anos (não têm qualquer fundamento as várias hipóteses sobre a doença). Foi sepultado, a 26 de novembro, junto ao órgão da abadia de Westminster, e durante a cerimônia fúnebre tocou-se o magnífico hino que compusera para as exéquias da rainha Mary. Dos seus seis filhos só um lhe sobreviveu.
As suas obras-primas, especialmente Dido e Enéas, o Hino a Santa Cecília e o hino Save me o God fazem dele não só maior músico inglês, mas também um dos gênios mais autênticos da história musical. A sua produção abundante, a originalidade e a variedade dos seus estilos são surpreendentes quando pensamos na brevidade da sua carreira. Em todos os estilos e gêneros que abordou, aproximou-se da perfeição: os velhos consorts (fantasias) polifônicos para violas, a sonata italiana, a nova música para igreja ao gosto da restauração (depois da revolução puritana, a "moderna" música de igreja afastou-se do espírito monástico, da polifonia modal: adquiriu um caráter secular), a verdadeira ópera e mesmo a pseudo-ópera ao gosto da época: aquilo a que, então, se chamava "ópera" na Inglaterra, era uma combinação híbrida do teatro dramático e da mascarada, onde a música mais não era do que um acessório tal como nos bailados e as máquinas.
No prefácio de Fairy Queen (uma dessas "pseudo-óperas" em que Purcell introduziu, todavia, uma música admirável), o compositor queixou-se da situação do teatro na Inglaterra, comparada com a da ópera italiana e francesa. Apenas Dido e Enéas, composto para uma representação privada, lhe permitiu realizar o seu ideal dramático.
As características mais destacadas da sua música são: o frescor e a espontaneidade da sua inspiração melódica (nunca se fez cantar melhor a língua inglesa); a utilização freqüente e muito hábil do baixo obstinado, cujo rigor faz sobressair a leveza do canto; uma certa ambiguidade modal, em que o maior e o menor se combinam freqüentemente, a ponto de dar origem, mediante o jogo da escrita polifônica, a uma linguagem audaciosa e pessoal.
Mas, acima de tudo, Purcell foi um dos primeiros compositores "modernos", isto é, um dos primeiros a que se podem aplicar os modernos critérios de análise. A sua morte foi também a da música inglesa, que só ressuscitou dois séculos mais tarde. Mas o brilho da sua obra, que exerceu uma influência importante no gênio de Händel, não deixou de ser mantido pelos concertos e edições.
Teatro - uma ópera (Dido e Enéas), 5 pseudo-óperas (Dioclesian, a admirável Rei artur, The fairy queen, The indian queen e The tempest), canções e composições instrumentais para cerca de 50 peças de teatro;
Igreja - 60 hinos (forma análoga ao grande moteto francês do século XVII), Serviços da manhã e tarde para solistas, coros e órgão, Te Deum and Jubilate (serviço grandioso para solistas, coros trompete, cordas e órgão), salmos, cânones sacros para coros à capela, cânticos para 1 ou 2 vozes e baixo contínuo.
Música vocal profana - 25 odes de circunstância (entre as quais 4 para o festival de Santa Cecília, 6 para os aniversários da rainha Mary, 5 em honra de Carlos II), cantatas profanas, Catches (uma espécie de cânones, tipicamente ingleses), 150 canções para 1 ou 2 vozes e baixo contínuo.
Música instrumental - 15 fantasias para viola (3 a 7 vozes), 22 sonatas para 2 violinos e baixo, numerosas peças para cravo, 3 voluntaries para órgão.