César auguste Franck nasceu em Liege (Bélgica), a 10 de dezembro de 1822. De origem alemã pelo lado materno, fez seus estudos no conservatório de Liege, pois desde cedo estava destinado a ser pianista virtuose. A vontade paterna de vê-lo aperfeiçoar-se na carreira de concertista levou-o para Paris.

Em 1837, Franck matriculou-se no conservatório, onde obteve prêmios nas classes de fuga, órgão e piano. Pouco depois preparou-se para o Prêmio de Roma. Contrariado na vontade de fazê-lo pianista, o pai retirou-o dos estudos. Desde então uma rotina de sobrevivência começou para Franck, atravessando Paris de lado a lado, na obscura e pouco rendosa profissão de lecionar à domicílio. A esse ‘métier’ acrescentou, em 1858, o de organista da igreja Santa Clotilde.

Maravilhado, Liszt o ouviu improvisar no instrumento. Em 1872, a vocação pedagógica de Franck foi recompensada com a cátedra de órgão do Conservatório, onde foi sempre professor exemplar, trabalhador assíduo, modesto, bondoso, religioso, mas desinteressado.

Afora um pequeno círculo de discípulos e admiradores, sua capacidade de compositor permanecia praticamente ignorada. O ambiente artístico de Paris continuava hostil à música sinfônica e de câmara, só valorizando autores de óperas. De outro lado, o próprio amadurecimento tardio e a meticulosidade de escrever uma única peça em cada gênero também contribuíram para que o mestre ficasse à margem do público. Somente por volta dos sessenta anos de idade começou a demonstrar a medida de seu gênio.

Franck morreu em Paris, a 8 de novembro de 1890. A Escola de Canto de Paris, depois a Escola Superior de Música (1900), fundada por Charles Bordes (1896) e dirigida por Vincent d’Indy, é um monumento à sua memória.

Franck é considerado o criador da escola francesa moderna: renovou as formas tradicionais, ampliando-as, e realizou a harmoniosa síntese entre o coral de J.S.Bach e a variação de Beethoven. Foi o primeiro compositor a empregar a 'forma cíclica' na sonata e na sinfonia, e enriqueceu, com seu cromatismo, a linguagem musical do século XIX. Sua influência artística foi considerável, quer diretamente sobre seus alunos (Duparc, d’Indy, Chausson), quer indiretamente sobre músicos como Liszt, Debussy, Fauré, Ravel.

Afora um pequeno círculo de discípulos e admiradores, sua capacidade de compositor permanecia praticamente ignorada. O ambiente artístico de Paris continuava hostil à música sinfônica e de câmara, só valorizando os autores de óperas. De outro lado, o próprio amadurecimento tardio e a meticulosidade de escrever uma única peça em cada gênero também contribuíram para que o mestre ficasse à margem do público. Somente por volta dos sessenta anos de idade começou a demonstrar a medida de seu gênio. Primeiramente através do oratório a redenção (1871-1872), cujo conflito entre o paganismo e o cristianismo faz lembrar os oratórios de Liszt.

Aliás, um paradoxo notado em Franck é o de suas obras profanas serem mais autenticamente religiosas que as sacras. O conhecidíssimo Panis angelicus (1872), para voz de tenor com acompanhamento de órgão e cordas, ostenta uma suntuosidade algo teatral, da mesma maneira que a redenção. O recolhimento espiritual, a serenidade mística que seus alunos veneravam até o exagero, estas foram plenamente alcançadas no grande trabalho coral as beatitudes, completado em 1879. São as oito bem-aventuranças do Evangelho de São Mateus, comentadas numa música imponente, mas, ao mesmo tempo, íntima.

Depois de as beatitudes, o gênio de Franck mostrou-se na Sinfonia em ré menor (1881), uma das mais notáveis do século XIX. Como na sinfonia, também na sonata Franck adotou a forma cíclica, onde a unidade de construção é assegurada por meio de um motivo condutor, circulante em todas as partes da obra. Exemplo culminante é a Sonata para piano e violino em lá maior (1886), que se tornou favorita dos duos de câmara e cujo último movimento foi literariamente comentado por Marcel Proust em Em busca do tempo perdido.

Apesar de ter preferido o órgão ao piano, neste último foi que Franck escreveu suas maiores obras para teclado. As Variações sinfônicas (1885), com acompanhamento de orquestra, ficaram como raro exemplo de variações concertantes. Porém a mais notável realização pianística de Franck é o Prelúdio, coral e fuga (1884), síntese magistral do coral de J.S.Bach e da grande variação beethoveniana. Foi no mestre de Leipzig e em Beethoven que ele nutriu a sua inspiração. Mas não foi um epígono. Seu interesse pelo cromatismo, pelas modulações constantes e sua adoção da forma cíclica conferiram-lhe marcante originalidade.

Por essa originalidade é que Franck cumpriu a missão histórica de renovar a cultura musical francesa. Em torno dele se agruparam os maiores talentos da nova geração, destacando-se Vicent d’Indy, que se encarregou de propagar-lhe a obra. Pois só pouco antes de morrer é que o mestre conheceu o sucesso público, com o Quarteto para cordas em ré maior (1889). Foi como se quisesse provar a própria grandeza de compositor, já que depois de Beethoven e Schubert - e até Bartók - nenhum outro quarteto mais importante apareceu.

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