Giacomo Puccini nasceu em Lucca (Itália), em 22 de dezembro de 1858. Músicos hereditários, desde Giacomo Puccini (1712-1781), trisavô do ilustre compositor, os Puccini tinham colaborado sempre no festival da Giornata delle Tasche, que realizava todos os anos em Lucca, quando das eleições municipais. Aos dez anos, Puccini era soprano na Escola de Canto de San Martino. Depois, estudou órgão e composição com músicos de Lucca e foi organista em várias igrejas da cidade.

Uma representação da aida, em Pisa, revelou-lhe a sua verdadeira vocação: não chegaria a ocupar o lugar invejado de mestre de capela da catedral, mas seria compositor de óperas. Em 1876, compôs a Missa de glória para ser admitido no Instituto Musical de Lucca, que abandonou três anos mais tarde para frequentar o conservatório de Milão, onde foi aluno de Ponchielli. No final do curso, em 1884, a sua primeira ópera, Le villi, foi representada no Tetaro dal Verne, por recomendação de Boito: oito meses mais tarde, sobe à cena do Scala.

Edgar (Scala, 1899) iria confirmar a sua reputação. Depois de um período de extrema pobreza, em Milão, Puccini instalou-se, graças aos seus primeiros direitos de autor, em Torre del Lago, próximo de Viareggio, onde fundou, com alguns amigos, o Clube da Boêmia e repartiu o seu tempo entre a composição e a caça e, mais tarde, o automóvel Manon Lescaut conquistou-lhe, em 1893, o primeiro grande êxito. Esta obra marcou o início da carreira triunfal de Puccini.

Seguem-se La Boheme (Turim, 1896) a sua primeira autêntica obra-prima, La tosca (Roma, 1900), obra extraordinariamente ousada, a que Schönberg prestou várias vezes homenagem, Madame Butterfly (Milão, Scala, 1904), que fracassou no Scala mas triunfou, alguns meses mais tarde, na Bréscia, La fanciulla del west (Nova Iorque, Metropolitan, 1910), a obra mais original de Puccini, que alguns consideram a sua obra-prima; concebida durante uma viagem aos Estados Unidos (1907), obteve em Nova Iorque um êxito que, infelizmente não se estendeu à Europa, La rondina (Montecarlo, 1917), Il trittico, 3 óperas em um ato: Il tabarro, Suor angelica e Gianni Schicchi (Nova Iorque, Metropolitan, 1918), Turandot (Scala, 1926), a obra-prima.

Sofrendo de um cancro na garganta, foi operado em Bruxelas, em 24 de novembro de 1924: morreu, vítima de uma crise cardíaca, cinco dias após a operação. Levara consigo o último dueto de Turandot, em que contava trabalhar, mas a ópera ficou inacabada. Foi pedido a alfano que completasse a partitura segundo as notas e rascunhos de Puccini, tarefa que realizou com muito respeito e talento.

A obra de Puccini é pouco conhecida. Algumas interpretações caricaturais que exageram certas "facilidades", desfiguram as suas criações mais populares, La Boheme, La tosca e Madame Butterfly (todavia, Toscanini realizara modelos de interpretação admiráveis); as duas obras-primas, La fanciulla del west e Turandot quase nunca são representadas. Enfim, a glória de Puccini baseia-se num mal-entendido: repisam-se as "grandes árias" (ária de Mimi, Oração: da Tosca, sobre o mar calmo), que ocupam um lugar secundário e são rigorosamente inseperáveis do contexto.

Puccini é, talvez, o maior representante do verismo italiano, mas é de tal modo superior a Mascagni e a Leoncavallo que a comparação é impossível. As qualidades fundamentais da sua arte são, por um lado, uma notável eficácia dramática (as suas obras não devem ser fragmentadas: foram feitas para o teatro onde é impossível ficar insensível ao calor humano, ao realismo poético que se exprime nelas, onde perdem significado as acusações vagas de "mau gosto"); por outro lado, uma orquestração e uma escrita vocal suntuosas.

Puccini não ficou, como muitas vezes se julga, indiferente aos progressos técnicos de seu tempo (foi, especialmente, ouvir Pierrot lunaire, em Florença, e estava ao corrente dos movimentos musicais de vanguarda). As audácias de La tosca, de Madame Butterfly e, sobretudo, de La fanciulla e de Turandot, onde, muitas vezes, se quebram as barreiras da tonalidade (como demonstram Schönberg e Leibowitz), colocam estas partituras entre as obras-primas da ópera do século XX. Autor de 12 óperas, Puccini deixou também uma missa, Capricho sinfônico, algumas peças de música de câmara, algumas melodias.