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 Romantismo

jacob ludwig félix mendelssohn bartholdy
(1809-1847)

Concertos para piano

Mendelssohn começou a compor o seu Concerto para piano em mi maior, em 1823, quando tinha apenas, quatorze anos, terminando-o alguns meses depois, em 1824, para dedicar-se, quase que imediatamente, à composição do Concerto para piano em lá bemol maior, o qual terminou em novembro desse mesmo ano. É surpreendente que a essa idade, Mendelssohn tenha se dedicado à ambiciosa tarefa de compor duas extensas obras concertantes.

Para entendê-lo, é conveniente assinalar alguns aspectos da formação do jovem gênio, tanto no terreno particular da música como no da cultura em geral. Por serem filhos de uma família de ricos banqueiros judeus (que ao se converterem para religião oficial, o cristianismo luterano, puderam ser aceitos como membros da alta burguesia alemã), Mendelssohn e sua irmã Fanny, quatro anos mais velha, receberam uma esmerada, ampla e severa educação, a cargo dos melhores professores e sob exigente vigilância de seu pai, que não lhes permitia momentos de descanso.

Segundo os estudiosos da obra de Mendelssohn, essa dedicação a um trabalho constante, que lhe foi imposta durante sua infância, converteu-se em costume obsessivo, do qual o grande compositor não pôde se libertar ao longo de toda a sua vida e que, muito provavelmente, foi uma das principais causas de sua morte prematura.

Esse Mendelssohn, possuído de uma febre criadora sem pausas, contrasta com a habitual e falsa imagem (mantida até quase a metade do século XX) de um músico que, graças à riqueza de seus pais, podia possuir tudo que desejava. Essa esmerada educação gerou comentários que sua música tinha um quê de fácil, de um bom gosto superficial, principalmente nas suas composições para piano. As obras sinfônicas e as músicas de câmara e sacra escapam a essas apreciações, demonstrando um equilíbrio entre o romântico e o clássico.

Se a riqueza permitiu a Mendelssohn ser um músico sem preocupações financeiras, cuja tranqüilidade se refletia em sua música, também foi motivo de crítica para aqueles que consideravam que para ser um gênio era necessário sofrer as penúrias de uma vida miserável - quando o mais provável é que seja muito maior o número de gênios potenciais frustrados pela miséria do que os que puderam chegar a sê-lo, apesar dela.

Embora pareça estranho, um músico da grandeza de Debussy somou-se aos críticos da obra de Mendelssohn. Debussy se perguntava o que Schumann encontrava de admirável naquele que ele considerava como um "notário elegante e fácil".

Hoje, o que o tempo encarregou-se de colocar as coisas em seu devido lugar, Mendelssohn deixou de ser considerado um músico menor e um romântico de segunda ordem para passar a ser, junto a Schumann, Chopin e Liszt, um dos quatro grandes representantes da corrente romântica que se seguiu a Beethoven e Schubert.

Pode-se afirmar que não foi apenas a precocidade de seu gênio natural, mas também a solidez de sua formação musical (verdadeiramente excepcional para um garoto de seu tempo) o que permitiu a Mendelssohn compor seus dois concertos para piano. É mais do que provável que o verdadeiro e profundo impulso que o levou a escrever esse difícil gênero de composição tenha sido o desejo de interpretar obras de grande inspiração junto a sua irmã Fanny.

Foi precisamente junto à sua irmã que Mendelssohn interpretou pela primeira vez o Concerto para piano em mi maior (1823), quando o músico contava com, apenas, quinze anos de idade - época da composição do Concerto para piano em lá bemol maior (1824).

A apresentação pública do Concerto para piano em mi maior deu-se cinco anos mais tarde, em Londres, e o compositor foi acompanhado pelo famoso virtuoso Moscheles. Se no primeiro movimento, allegro vivace, possam ser mais assinaladas algumas imperfeições, elas revelam o frescor da composição e possuem o encanto de ser os primeiros esboços de um jovem gênio. O adagio non troppo foi melhor elaborado e as passagens melódicas de sua parte final já anunciam as Canções sem palavras. No último movimento, existem idéias brilhantes, que contrastam com outras de um delicado lirismo.

Com pouco tempo depois, o Concerto para piano em lá bemol maior surpreende pela maturidade alcançada por seu autor em apenas dois ou três meses. Após um extenso e equilibrado primeiro movimento, ressalta-se a ternura e a arte de dissimular do andante central, que é seguido de um allegro final, aonde aparecem uma alusão ao começo da Sonata Waldstein, de Beethoven, e passagens compostas em estilo de fuga, que provam os sólidos conhecimentos que Mendelssohn já possuía da arte do contraponto.

Concerto Romântico, n.º 46 - Concertos para piano

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