Jacob Ludwig Felix Mendelssohn Bartholdy nasceu em Hamburgo (alemanha) a 3 de fevereiro de 1809. Neto do filósofo Moses Mendelssohn, pertencia à família de ricos banqueiros judeus, convertidos ao cristianismo. Recebeu educação cuidadosa: além de piano e composição, estudou literatura e arte, dominando a expressão literária com a mesma facilidade com que dominou a música. Estudou em Berlim (1811), depois em Paris
Mendelssohn começou a dar concertos aos nove anos de idade! Por essa época publicou uma tradução da adreana, de Terêncio e em 1821 esteve em Weimar, tocando na presença do poeta alemão, Goethe. Terminou diversas peças musicais, entre elas a abertura Sonhos de uma noite de verão (1826), e fez representar a ópera as bodas de Camacho.
De 1826 a 1828, Mendelssohn freqüentou a universidade de Berlim, e ao longo de sua trajetória acadêmica teve a possibilidade de ter mestres de grande prestígio, entre os quais se distinguiram nomes como o de Hegel, Carlos Hitter e Eduardo Gans. Mendelssohn destacou-se em quase todas as disciplinas, exceto em matemática e física, e falava vários idiomas. A fim de completar a sua formação estética, Mendelssohn estudou artes plásticas com João Gottlob Rösel, da academia de Belas artes de Berlim. Mendelssohn pintou durante toda a sua vida, dominando a técnica da pintura e aquarela. Apresentava, ainda, destacado desempenho nos esportes e costumava praticar exercícios como a equitação e a natação. Também era, segundo diziam, um excelente dançarino.
Posteriormente, freqüentou a academia de Canto de Berlim, onde aprendeu a arte da instrumentação e da regência de coral. Pode-se dizer que a precocidade e o destaque do jovem compositor em tudo ao que se propunha derivava, em parte, da excelente formação educacional e do ambiente em que vivia, no qual mantinha contato com importantes e influentes intelectuais. Ao finalizar seus estudos, seu pai aceitou que se dedicasse à música, a qual já havia se convertido no centro de suas atenções.
O trabalho que Mendelssohn realizou para recuperar a música anterior a seu tempo, foi comentado na historiografia da arte dos sons e centra-se, principalmente, em um marco histórico: no dia 11 de março de 1829 era representada em Berlim, apesar da hostilidade de boa parte dos membros dos círculos musicais, a Paixão segundo São Mateus, de J.S.Bach. Entre os presentes estava o seu mestre, Carlos Frederico Zelter, que foi o responsável por suscitar o interesse de seu aluno pelo barroco J.S.Bach, compositor que marcou o estilo das composições do jovem músico. Montada e dirigida pelo próprio Mendelssohn, fazia exatamente 79 anos, ou seja, desde a morte do grande compositor barroco, que não se escutava essa obra-prima, a qual, a partir de então, foi redescoberta e voltou a ser incluída nos programas musicais do continente, junto às demais obras do catálogo bachiano.
As inquietudes de Mendelssohn fez com que empreendesse uma série de viagens, em sua grande maioria financiadas por seu pai, principalmente pela Inglaterra, Escócia (1829), Itália (1830-1831), França (1831) e Inglaterra outra vez (1832-1833), com a finalidade de ampliar seus conhecimentos culturais. Na Inglaterra, onde esteve em abril de 1829, em Londres, dirigiu-a e interpretou-a com grande êxito. No dia 29 de novembro desse mesmo ano, a Real Sociedade Filarmônica de Londres, admitiu-o entre seus membros. Mendelssohn visitou, ainda, a Escócia e a Irlanda, antes de regressar a Berlim. Desde esse momento, a Inglaterra converteu-se em um dos seus destinos prediletos, descrevendo Londres com estas palavras: ‘(...) Sinfonia de fumaça e de pedra, é o monstro mais grandioso que se pode encontrar. Eu nunca tinha visto tanto contraste e tanta variedade’.
Ao regressar da viagem, rejeitou o cargo de professor que havia sido criado para ele em Berlim, e em maio de 1830 partiu novamente, nessa ocasião para a Itália, passando também por Weimar (onde voltou a ver pela última vez seu amigo Goethe), Munique e Viena. Mendelssohn visitou em primeiro lugar as cidades de Veneza e Bolonha, e em outubro desse ano chegava à Florença. As impressões do jovem artista em relação aos seus primeiros contatos com a cultura mediterrânea foram intensas, e ficaram registradas na vasta correspondência que manteve com seus familiares.
Outra cidade que o impressionou foi Roma, onde residiu desde 1.º de novembro de 1830 até 10 de abril de 1831: ‘(...) E quando em meio a um deslumbrante e esplêndido luar e um céu turquesa escuro, encontrei-me em uma ponte com estátuas e ouvi alguém gritar ponte móvel, de repente tudo me pareceu um sonho’. Diante da basílica de São Pedro, um impressionado Mendelssohn escreveria: ‘Uma grande obra da natureza, um bosque, um grande maciço ou algo semelhante, porque não posso aceitar a idéia de que seja obra de homens’.
Em outra carta, datada do dia 20 de dezembro, Mendelssohn mostrava-se completamente adaptado ao novo ritmo que impunha a seus habitantes a grande cidade meridional: ‘Há um sol intenso, um céu azul, um ar límpido. (...) É incrível a sensação que causa este ar, esta serenidade, e quando me levantei e vi reaparecer o sol, fiquei alegre em pensar que não faria nada. Todos saem para passear de um lado a outro, e desfruta-se da primavera em dezembro. A cada momento encontram-se amigos, depois separam-se, cada um segue sozinho e pode sonhar. (...) Os montes Sabinos estão cobertos pela neve, o brilho do sol é divino, o monte albano apresenta-se como uma aparição de sonho. Nada parece distante aqui da Itália, pois todas as casas podem ser contadas sobre os montes com suas janelas e telhados’.
Em Roma, Mendelssohn conheceu Berlioz, com quem manteve uma boa amizade. O compositor francês descreveria, assim, seu colega alemão: ‘É um jovem maravilhoso, seu talento como intérprete é tão grande como o seu gênio musical. (...) Tudo o que ouvi dele me entusiasmou, estou fortemente convencido de que é um dos maiores talentos musicais de nosso tempo (...) e é também uma dessas almas cândidas que raras vezes encontramos’. Entre suas melhores composições dessa época estão a caverna de Fingal, o Concerto para piano em sol menor, a Sinfonia n.º 4 - Italiana e o oratório Paulus.
No final de 1831, Mendelssohn visitou novamente Paris, ocasião em que conheceu, entre outros compositores,Chopin, Meyerbeer e Liszt. Entretanto, o desprezo da Sociedade de Concertos em relação à sua Sinfonia n.º 5 - Reforma, e a epidemia de cólera que assolou a cidade fizeram com que o compositor abandonasse a cidade e se dirigisse a Londres, onde chegou no dia 23 de abril de 1832. Cerca de um ano antes, em 28 de maio de 1831, uma carta enviada às suas irmãs Fanny e Rebeca refletia o apreço que o músico alemão sentia por essa cidade: ‘(...) Está escrito no céu que aquele lugar coberto por brumas foi e continua sendo a minha residência predileta. Meu coração bate forte quando penso nele’.
Em Londres Mendelssohn soube da morte de duas das personalidades que mais admiravam: Goethe, que havia falecido no dia 22 de março de 1832, e Carlos Zelter, um de seus professores, no dia 15 de maio. Decidiu regressar a Berlim no mês de julho, permanecendo nessa cidade até 15 de janeiro de 1833, quando foi surpreendido por outra má notícia: a negativa quanto à sua aceitação para ocupar a vaga de Zelter na academia de Berlim.
Depois de um primeiro contato promissor com a orquestra de Gewandhaus, de Leipzig, Mendelssohn decidiu aceitar a proposta na qual se converteria em diretor do festival do Reno. Posteriormente, viajou a Londres, ocasião em que se deu a estréia de sua Sinfonia n.º 4 - Italiana , no dia 13 de maio de 1833.
Pouco tempo depois, assinou um contrato de três anos para dirigir as atividades musicais em Düsseldorf. Mendelssohn permaneceu nessa cidade até 1836, embora no outono de 1835 tivesse aceito a direção do Gewandhaus de Leipzig, começando a exercer suas funções à frente dessa instituição que, sob o seu comando, alcançou um grande prestígio. Em 1836, recebeu o título de doutor honoris causa, da universidade de Leipzig.
Em 1841, foi chamado à Berlim por Frederico Guilherme IV, rei da Prússia, o qual desejava fundar um grande conservatório. Mendelssohn tornou-se o seu mestre de capela e, desde então, dividiu suas atividades entre Berlim e Leipzig. Ainda em 1841 recebeu do rei da Saxônia o título de diretor de orquestra.
Em 1843, Mendelssohn fundou e dirigiu uma das instituições mais destacadas em todo o continente: o Conservatório de Música de Leipzig. Nele, o músico ensinou composição e piano, junto a uma equipe de professores selecionada por ele e da qual também fazia parte o renomado compositor Schumann. O Conservatório de Música de Leipzig alcançou um alto nível, em sua época inigualado por outro instituto em toda alemanha. Mendelssoh viveu nessa cidade até 1845.
Em 1846 dirigiu em Birmingham, a primeira audição do seu oratório Elias, que foi triunfalmente recebido. De regresso dessa viagem, recebeu a notícia do falecimento de sua irmã Fanny, o que lhe causou forte abalo. Mendelssohn veio a falecer poucos meses depois, a 4 de novembro de 1847, em Leipzig (alemanha).
Mendelssohn é um compositor eclético, embora de linguagem muito pessoal. Inspirado por sentimentos românticos criou obras de altas qualidades formais, fiel ao Classicismo vienense. Homem fino e culto, sua música equilibrada reflete a falta de paixão de quem se fez na vida sem esforço.
Seu Concerto para piano n.º 1 em sol menor (1826) é obra tecnicamente difícil, mas já de valor. Ainda em 1826, com a idade de apenas 17 anos, compõe sua primeira obra-prima, a brilhante abertura Sonho de uma noite de verão. A obra é rica em efeitos atmosféricos e as melodias são de um lirismo encantador. A música incidental para a peça de Shakespeare e a famosa Marcha nupcial foram acrescentadas em 1842.
Entre as obras mais conhecidas de Mendelssohn encontram-se as várias coleções para piano das Canções sem palavras (1829-1845). São pequenas peças melodiosas, sentimentais ou espirituosas, e já foram muito tocadas pelos diletantes. Dos lieder de Mendelssohn só um sobrevive: Nas asas do canto.
Um verão na Escócia inspira a abertura as Hébridas (1833), também denominada a caverna de Fingal. Já foi definida como "sinfonia de turista" a Sinfonia n.º 3 - Escocesa (1842), dedicada à rainha Vitória, obra notável pelo sombrio colorido nórdico.
Depois das Variações sérias (1841), para piano, escreveu Mendelssohn a sua obra-prima madura, o Concerto para violino em mi menor Op. 64 (1845), o mais melodioso e brilhante concerto violinístico. O Trio para piano em ré menor (1839) merece destaque pela energia sombria do primeiro movimento e a verve do scherzo, mas peca pelo sentimentalismo do movimento lento.
Como regente Mendelssohn teve o imenso mérito de ressuscitar J.S.Bach e criou o repertório histórico dos concertos sinfônicos de hoje, com base nas obras de Haydn, Mozart e Beethoven. Admirador de Händel, reflete sua influência nos oratórios Paulus (1835) e Elias (1846), que tiveram grande sucesso em Londres. Elias, principalmente, continua nos repertórios corais. No Quarteto em fá maior Op. 80 (1847), Mendelssohn apresenta traços de influência dos últimos quartetos de Beethoven, sendo ele o primeiro a admirá-los devidamente.
Das sinfonias de Mendelssohn cumpre ainda citar a Sinfonia n.º 5 - Reforma (1829-1830) e sobretudo a Sinfonia n.º 4 - Italiana (1833). Criou também música para órgão e capela.
A obra de Mendelssohn, banida da alemanha pelo nazismo, sobreviveu à hostilidade anti-semita dos wagnerianos. Suas composições, vivas e harmoniosas, foram incorporadas ao repertório internacional como representação máxima da elegância musical do século XIX. Somente das obras para piano muitas caíram no esquecimento. Nem romântico, nem clássico, Mendelssohn seria mais apropriadamente definido como uma espécie de parnasiano avant la lettre. Sua obra combina a ortodoxia clássica e o colorido romântico, fórmula para epígonos desenvolvida pelos seus alunos do conservatório de Leipzig, que semearam o academismo no mundo inteiro.
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