Manuel Maria de Falla nasceu em Cádiz (Espanha) a 23 de novembro de 1876. Iniciou os estudos de música orientado pela mãe, que era pianista. Com ela apresentou-se pela primeira vez em público, tocando um arranjo para quatro mãos do oratório de Haydn, as sete palavras de Cristo na cruz. Essa obra que, um século antes, o mestre austríaco tinha escrito para a igreja de São Francisco de Cádiz, exerceu marcante influência na vida de Falla. Ao ouvi-la durante as cerimônias da Semana Santa, decidiu dedicar-se à música, abandonando a inclinação inicial para a literatura.
De 1901 a 1904, residindo em Madrid, de Falla estudou composição com Felipe Pedrell. Foi esse notável musicólogo quem lhe despertou o interesse pela música nacional da Espanha. O nacionalismo espanhol de Falla reflete-se em sua primeira ópera: a vida breve (1905), 'uma desesperação de amor em dois atos'. Embora deixando transparecer influência estrangeira (a orquestração é bem wagneriana), o quadro geral é de autêntico colorido hispânico.
Com a vida breve (1905), estreada em Nice em 1913, Falla venceu um concurso instituído pela Real academia de Belas-artes de São Fernando, em Madrid. Foi como pianista que passou a ganhar a vida em Paris (1907), onde se tornou amigo de Debussy e Ravel, e onde conheceu albéniz. Conheceu também a música russa, sobretudo a de Mussorgsky. A permanência de Falla em Paris teve resultados importantíssimos para o desenvolvimento de seu estilo. Quando retornou a Madrid (1914), esses resultados se fizeram sentir através dos bailados El amor brujo (1915, cuja Dança ritual do fogo tomou conta das salas de concerto) e O tricórnio (1919).
Em que pese o caráter primitivo, 'barbaramente' andaluz, dos dois bailados, neles não há nenhuma utilização direta de motivos folclóricos. Influenciada pelo Impressionismo, a expressão nacionalista de Falla já evoluíra para um estilo isento de referências literalmente folclóricas. Daí terem-no apontado como 'o mais europeu de todos os espanhóis e o mais espanhol de todos os europeus'. A obra que melhor exprime essa realidade é Noites nos jardins da Espanha (1915), escrita sob forma de concerto para piano e orquestra. Em seus três movimentos, a linguagem impressionista aparece envolvendo os velhos cantares da andaluzia. Estes se fazem ouvir como no fundo de um cenário exótico, algo orientalizado.
Ao escrever essas obras, Falla estava a meio caminho de um terreno estético cada vez mais limpo de localismos. Alcançou-o quando compôs o Concerto para cravo e cinco instrumentos (1926). Plasmada na evolução formal e harmônica do período anterior ao Classicismo vienense, essa obra é de caráter universal, ascética na expressão.
As tempestades políticas na Espanha levaram Falla para a argentina (1939). a ascese, despontada no Concerto para cravo, torna-se misticismo profundo, que lhe acompanha a vida no retiro de alta Gracia. Voltou a ouvir as sete palavras de Cristo na cruz. Falla morreu em alta Gracia (argentina), a 14 de novembro de 1946.
Outras obras: óperas: El Retablo de maese Pedro (1923), baseado num entremés de Cervantes, Fuego fatuo, baseada em temas de Chopin (inacabada); Concerto para cravo e cinco instrumentos (flauta, oboé, clarineta, violino e violoncelo, 1926); atlântida, poema para coros e orquestra, sobre versos do poeta catalão Verdaguer, obra que Falla deixou inacabada e foi concluída por seu discípulo Ernesto Halffter; peças para canto, para guitarra, etc.