Olivier Messiaen nasceu em avignon (França), em 10 de dezembro de 1908. Filho de Pierre Messiaen (professor de letras e tradutor de Shakespeare) e da poetisa Cecile Sauvage, cresceu num clima de inteligência estética e o seu prodigioso instinto musical manifestou-se a partir dos oito anos, nas suas primeiras tentativas de composição. Aos onze anos, entrou para o conservatório de Paris, onde teria como professor J.N.Gallon (harmonia), Caussade (fuga), Dupré (órgão), Emmanuel (história) e Dukas (composição) e obtém cinco primeiros prêmios.

A partir de 1931 foi organista na igreja da Trindade, em Paris. Paralelamente estudou o cantochão, a rítmica hindu, a música em quartos de tom, o canto dos pássaros, os livros santos, a poesia surrealista. A sua reputação aumentou rapidamente: as pessoas corriam para a Trindade, a fim de ouvirem as suas improvisações invulgares e, a partir da apresentação, em 1931, nos concertos Straram, de Offrandes oubliées, os meios musicais esperavam as suas obras com curiosidade.

Em 1936, descobriu a profunda originalidade da música de Jolivet e foi um dos fundadores do grupo Jeune france (Jolivet, Lesur, Baudrier). Prisioneiro durante a guerra no Stalag VIII a, em Gorlitz (1940-1942), compôs aí uma de suas obras-primas o Quarteto para o fim dos tempos (apresentado em primeira audição no campo, em 1941). Logo após a guerra, as suas novas obras (e, sobretudo, as Três peças litúrgicas da presença divina) desencadeiam, na imprensa musical, uma tempestade hostil cuja violência difamatória não tem, provavelmente, na história da crítica.

Alias, atacou-se menos a sua música do que os seus comentários místicos e poéticos. No entanto, a sua influência nas novas gerações de músicos tornou-se considerável: a partir de 1942, foi professor de harmonia no Conservatório, onde, em 1947, foi criada para ele a cadeira de análise e estética musicais. alguns dos seus alunos, como Boulez, abandonam-no durante algum tempo para se submeterem às disciplinas ascéticas ensinadas por Leibowitz, sumo sacerdote do dodecafonismo.

Mas em 1949, um pequeno estudo para piano de Messiaen (Mode de valeurs et d'intensités) devolveu-lhe a confiança dos discípulos infiéis a abriu o caminho aos jovens músicos de vanguarda, de que Boulez se tornou padrinho no Domaine musical: a música verdadeiramente nova que faz rebentar o quadro da técnica serial ,e que se insere tão bem na perspectiva da revolução iniciada por Webern como na dos princípios estéticos do próprio Messiaen.

Estes princípios, demasiado complexos para que se possa sequer resumir aqui, foram explicados por Messiaen na sua obra Technique de mon langage musical (1944). A sua principal originalidade é ter 'alargado, ampliado algumas noções antigas' (noções de pedal, de acento, de célula rítmica) e procurando 'regras universais, princípios unificadores': regras que, ao mesmo tempo, se aplicam à melodia, à harmonia, ao ritmo (valores acrescentados, pedais, princípios da variação, do desenvolvimento).

Desta idéia de unificação nasceu o seu último estilo (Mode de valeurs et d'intensités, Livro do órgão, Cronocromia) onde as regras de desenvolvimento retiradas da técnica serial, ou de outras técnicas mais pessoais, se aplicam já náo só ao aspecto melódico da música (alturas), mas também ao ritmo (durações), aos matizes (intensidades), à instrumentação (timbres). Encontrou os seus melhores modelos na natureza que conhece bem (em especial, nos pássaros) e a sua inspiração tem como fonte a sua intensa fé católica. Messiaen morreu em Clichy (França), em 1992.

Obras: música vocal: Poemes pour mi, Chants de terre et de ciel, Harawi, Petites liturgies de la présence divine (coro de vozes femininas e orquestra, 1944), Cinq rechants para 12 vozes a capela (1949); música sinfônica: Offrandes oubliées (1930), Turangalila Symphonie em 10 andamentos (1948), Réveil des oiseaux (1953) e Oiseaux exotiques para piano e orquestra, Chronochromie (1960); música de câmara: Quatuor pour la fin du temps para piano, violino, clarineta e violoncelo (1941); piano: Prelúdios (8), Visions de l'amen para 2 pianos (1943), Regards sur L'efant Jesus (20) (1944), Mode de valeurs et d'intensités, Neumes rythmiques, e Ile de feu (1949-1950), Catalogue d'oiseaux (1960).